quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Porque isto entre mães e filhas não é coisa simples!


Chaves na mão, melena desgrenhada,

Batendo o pé na casa, a mãe ordena

Que o furtado colchão, fofo e de pena,

A filha o ponha ali ou a criada.


A filha, moça esbelta e aperaltada,Lhe diz coa doce voz que o ar serena:

- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;

Olhe não fique a casa arruinada...»

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?

Tu cuidas que, por ter pai embarcado,Já a mãe não tem mãos?»


E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado.


Eis senão quando (caso nunca visto!)

Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...



Nicolau Tolentino

sábado, 7 de junho de 2008

Laureano Silveira - Pai, Poeta, Pedagogo e Para mim, o tio Laureano :-)







Licenciado em História da Arte e doutorado em Literatura Ibero-Americana pela Vanderbilt University, Nashville [Tennessee, EUA], autor de cinco livros de poesia: Os caprichos [Limiar, 1987], A metafísica do insecto [Kíron, 1988], Os secretos felinos [Limiar, 1991], O lado negro do lado branco [Limiar, 1993] e Os retratos [Pedra Formosa, 1998], aceso crítico nomeadamente da poesia existencial de Egito Gonçalves, de revelação de Poesia/1984, ex-aequo, da Associação Portuguesa de Escritores, de docente do Ensino Superior, e de muitas coisas mais.
(http://poligrafia.weblog.com.pt/)


Não gostava de gatos, mas sempre achei que teria gostado muito de gostar. Lembro-me de o ver completamente arrepiado, em casa do meu pai, nos Olivais, com o gato Klaus a passar-lhe atrás do pescoço, no sofá. Lembro-me de, pequenina, achar que ele era assim um bocadinho rígido, que não admitia maus comportamentos. Mais tarde, lembro-me só dos olhos brilhantes e do sorriso largo quando falava nos filhos ou na patrícia. Estas fotos foram do último dia em que o vi, à menos de um ano, no casamento do meu pai. São fotos cortadas, mas as originais, que não posso aqui pôr, mostram um grupinho genial: o laureano, ao lado, a minha mãe, e em cima, fazendo um triângulo, está o meu pai. Estão os três com sorrisos de presente, passado e futuro. Disse-me à um mês, já doente, e via messenger, que quando estivesse melhor e viesse a lisboa, tinhamos que ir beber uma café só os dois, para conversarmos.


E agora? Agora vou finamente arranjar tempo ler os livros dele. Mas já não vou poder conversar com ele...


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